Morre Nelson Mandela, herói da luta pela igualdade racial



O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, conhecido mundialmente por sua luta contra o apartheid, faleceu nesta quinta-feira em Johanesburgo aos 95 anos.

"A nação perdeu seu maior filho", disse o presidente Jacob Zuma, ao anunciar a morte do líder sul-africano. "Ainda que soubessemos que esse dia iria chegar, nada pode diminuir nosso sentimento de perda profunda".




O primeiro presidente negro da África do Sul, que lutou contra o regime de segregação racial vigente no país até 1994, começou em junho deste ano a ter complicações decorrentes de uma infecção pulmonar.

O funeral com honras de Estado vai ocorrer durante o sábado na capital, Pretória. Zuma declarou luto em toda a África do Sul.


Campanha de resistência




Mandela, em foto de arquivo; ele foi advogado antes de entrar para a política
Em 1952, Mandela participou ativamente da campanha do CNA de resistência à nova legislação segregacionista. Quatro anos mais tarde, em meio à crescente movimentação contra o regime, o governo prendeu 156 ativistas do partido.

Eles foram acusados de traição em uma série de julgamentos que se arrastou até 1961. Mandela foi porta-voz do grupo durante o processo, e todos acabaram sendo absolvidos.
Em 1960, ocorreu o massacre de Sharpeville, em que dezenas de negros foram mortos quando a polícia abriu fogo contra uma multidão. Em seguida, o CNA foi colocado na clandestinidade, e Mandela foi preso.

Em 1961, ele foi libertado, passou a viver na clandestinidade e ajudou a fundar a ala militar do CNA, o Umkhonto we Sizwe, ou MK. Mandela chegou a ir para a Argélia receber treinamento militar, mas acabou sendo preso em 1962 por deixar o país ilegalmente


27 anos de prisão
Mandela passou 18 anos detido na ilha de Robben, na costa da Cidade do Cabo, e nove na prisão Pollsmoor, no continente – a transferência ocorreu em 1982. Enquanto esteve preso, Mandela perdeu sua mãe, que morreu em 1968, e seu filho mais velho, morto em 1969. Ele não foi autorizado a participar dos funerais.



Durante o período em que ficou preso, sua reputação como líder negro cresceu e sedimentou a imagem de liderança do movimento antiapartheid. A partir de 1985, ele iniciou o diálogo sobre sua libertação com o Partido Nacional, que exigia que ele não voltasse à luta armada. Neste ano, ele passou por uma cirurgia na próstata e, ao voltar para a prisão, passou a ser mantido em uma cela sozinho.

Em 1988, Mandela passou por um tratamento contra tuberculose e foi transferido para uma casa na prisão Victor Verster. Em 2 de fevereiro de 1990, o presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk reinstituiu o Congresso Nacional Africano (CNA). No dia 11 de fevereiro de 1990, Mandela foi solto e, em um evento transmitido mundialmente, disse que continuaria lutando pela igualdade racial no país.


Da prisão à Presidência foram quase três décadas
Mandela só seria libertado 27 anos mais tarde a mando do então presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk, após uma intensa campanha do CNA e de uma grande pressão internacional.


Em liberdade, voltou a ser protagonista na luta contra a segregação racial. Sua liderança foi fundamental na luta final contra o apartheid na África do Sul.

A vitória na luta contra as leis segregacionistas em seu país lhe garantiu, em 1993, o Prêmio Nobel da Paz, junto com De Klerk. Em 1994, Mandela foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições em que os negros puderam votar desde o fim do apartheid.

Em seu mandato, que durou até junho de 1999, conseguiu adquirir respeito da comunidade internacional pelo seu regime de conciliação. As práticas racistas foram proibidas de uma vez por todas em sua administração.

Depois de presidente, Mandela voltou a ser militante
Mesmo após o fim do mandato, Mandela continuou atuando como militante. Em 2003, chegou a fazer pronunciamentos contra a política externa do então presidente dos EUA, George W. Bush.

Ainda se engajou em campanha para arrecadar recursos para combater a Aids, que foi denominada "46664", seu número de identificação na prisão. Em 2005, revelaria ao mundo que a doença matara seu filho Makgatho, em 6 de janeiro daquele ano. No ano seguinte, aos 85 anos, anunciou que sairia da vida pública por problemas de saúde.

Continuou recebendo prêmios, como o concedido pela Anistia Internacional, de Embaixador de Consciência, em 2006.

Em 2010, com a saúde debilitada e após a morte de sua bisneta, ficou ausente durante quase todos os eventos relacionados à Copa do Mundo em seu país. Mas apareceu na festa de encerramento. Carregado em um carrinho de golfe, foi aplaudido de pé pelo público, que lotou o famoso estádio Soccer City.
Ao morrer, era considerado um herói para negros e brancos de seu país e um símbolo da igualdade racial em todo o mundo.

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